Por
Luci Rocha
A
obra Capitães da Areia, do escritor Jorge Amado (1912/2001), foi filmada e
dirigida por Cecília Amado (neta do escritor), em 2011, marcando o início das
comemorações que homenageariam o centenário do escritor baiano no ano seguinte.
A
cineasta apostou em “não-atores” para garantir a atmosfera de uma Bahia
legítima, com sotaques originais e mais aproximados da realidade retratada.
Esses meninos, recrutados em ONGs de Salvador, estabelecem estreita relação com
as personagens da obra, principalmente, pela história de vida de cada um, no
entanto diferem-se deles na caracterização física.
Pedro
Bala, que é descrito como um pré-adolescente marcado por uma cicatriz no rosto
e com cabelos alongados e loiros, aparece na tela com cabelos escuros, mais
curtos e sem o sinal que o caracteriza tão bem no enredo de Jorge Amado. Assim
como Dora, a única menina entre os Capitães da Areia, que no livro tem cabelos
dourados pelo sol, no filme apresenta-se bem diferente.
Se
comparado à obra, pode-se considerar que o filme garante o tema essencial: um
grupo de meninos abandonados, chamados de Capitães da Areia, vivendo em um
trapiche, no cais de Salvador, tenta sobreviver de pequenos roubos e trapaças,
perambulando pela cidade, na década de 1930. No entanto, muitos episódios
apresentados na obra deixam de aparecer no filme; ou surgem de maneira rápida
ou muito resumida.
O
que se pode resgatar no filme e que não deve ser desconsiderado também na
leitura da obra, principalmente pra quem presta os vestibulares, são os temas
paralelos como:
●
O confronto entre classes sociais;
●
A crítica dirigida às instituições sociais que abandonam os pobres e protegem
os ricos (Igreja, Polícia, Orfanatos, Reformatórios, Jornais);
●
A apologia à religião africana, identificada como “amiga dos negros e dos
pobres”;
●
O “rito de passagem” individual do personagem Pedro Bala: de menino de rua a
líder comunista.
Quanto à trilha sonora, das dez músicas, oito são
de autoria do compositor baiano Carlinhos Brown que, simplesmente,
garante um espetáculo à parte com três delas inéditas: “Tema de Dora”,
“Capoeira Futuro” e “Espírito Bravo”.