(Análise de Luci Rocha)
1) GÊNERO: Teatro – comédia
de costumes (1964);
2) CENÁRIO: Cadeia da cidade
de vitória de santo antão , PE;
3) LINGUAGEM: Regional e
coloquial, marcada pela presença de ditados populares.
4) TEMAS:- Sátira às
autoridades corrompidas e nefastas (Ten. Guedes); - Elogio da esperteza (Leléu)
e dos bons sentimentos (Citonho, Cabo Heliodoro) contra a tirania (Ten.
Guedes), a violência e a estupidez (Vela de Libra, Testa-Seca e Paraíba); - Crítica
ao cerceamento à mulher da sociedade patriarcal (Ten. Guedes e Dr. Noêmio); -
Elogio da busca de autenticidade e da ousadia na busca de uma vida que valha a
pena ser vivida (Leléu e Lisbela).
5) PERSONAGENS
Leléu: Um funâmbulo
(equilibrista que anda sobre a corda bamba), ator e violeiro; o prisioneiro do
título da obra. Possuiu várias identidades e mulheres diferentes.
Lisbela: Filha do Tenente
Guedes e noiva de Dr. Noêmio. Apaixona-se por Leléu.
Tenente Guedes: Delegado da cadeia
local, viúvo e cuidadoso coma filha. Afirma com frequência que sua profissão é
um fardo.
Dr. Noêmio: Noivo de Lisbela,
advogado formado no Rio, vegetariano e
um tanto hipocondríaco.
Citonho: Velho carcereiro
de onde Leléu e seus dois companheiros de cela estão presos. Citonho tem a fama
de ser caduco, velho e fraco (por mais que não seja nem caduco e nem bobo).
Jaborandi:
Soldado e corneteiro de onde Leléu e seus dois
companheiros de cela estão presos. Fascinado por séries de cinema.
Lapiau: Artista de circo e
amigo de Leléu.
Frederico
Evandro: Assassino Profissional, irmão de Inaura, moça que fora seduzida por
Leléu. Frederico possui o apelido de “Vela-de-libras” por acender uma grande
vela e rezar o padre nosso às suas vítimas, quando as executa.
Heliodoro: Cabo de Destacamento.
Juvenal: Soldado
Testa-Seca e Paraíba: Companheiros de cela de Leléu.
Tãozinho: Vendedor ambulante
de pássaros que roubou a mulher de um senhor apelidado Raimundinho.
INTERTEXTUALIDADE
COM O CINEMA (fragmento)
JABORANDI: Ai o
rapazinho fez tãe, tãe, tãe...Cada murro! Os bandidos chega viravam.
TESTA-SECA: Isso é
mentira.
JABORANDI: Mentira o
quê? É verdade.
TESTA-SECA: É
mentira.
CITONHO: Eu, por
mim, só acreditava se visse.
JABORANDI: E eu não
vi?
CITONHO: Você viu no
cinematógrafo.
PARAÍBA: E como foi
que terminou?
JABORANDI: Hein? Ah,
sim! Quando estava nisso, o artista pegou um revólver no chão e meteu o dedo.
Mas cadê bala? Aí, um bandido apanhou um garfo, rapaz, desse tamanho!, e partiu
pro rapazinho. Ele foi recuando, recuando e trãe, pulou pela janela do décimo
andar.
CITONHO: Vai ver que
nem morreu nem nada.
JABORANDI: Agora só
na próxima semana.
CITONHO: Mas isso é
que é ser uma besteira. Esperar uma semana pra ver se esse camarada morreu ou
não morreu. Não morre nunca!
JABORANDI: Morre
nada. Morrer o quê?
TESTA-SECA: Então é
mentira. Cair duma altura esquisita e não morrer!
JABORANDI: Você não
sabe o que é isso, não. Aquele pulo é um episódio. Entende? Episódio. Na última
hora acontece uma coisa. Aí é que está
o ruim: a gente passar uma semana sofrendo, bolando que coisa é essa.
RESUMO DO PRIMEIRO
ATO
v Conversa de
jaborandi com outros presos e com o carcereiro Citonho;
v Entrada do tenente Guedes,
sempre dizendo que autoridade é um fardo; reclama da fuga de Leléu, depois de
se apresentar no noivado da filha;
v O tenente, para
provar sua persistência conta como foi que conseguiu engravidar a mulher: tomou
84 vidros de elixir de nogueira, por
isso a menina se chama Lisbela de nogueira;
v Os presos Testa-Seca
sugere que coloque Leléu na cela junto com ele e Paraíba;
v Citonho demonstra
simpatia por Leléu;
v Testa-Seca reclama
que Leléu deflorou 8 virgens e ele próprio nunca teve uma mulher;
v Citonho fala difícil
e os outros perguntam com frequência o significado dos termos (matrimoniar-se, por exemplo, eles não
sabiam o que era);
v O tenente Guedes
sugere capar Leléu;
v Leléu aparece com o
soldado Juvenal e com o cabo Heliodoro;
v Leléu cumprimenta
safadamente os amigos;
v O tenente pede para
ele se ajoelhar e dá-lhe uns tapas;
v Leléu reclama que o
tenente não tem esse direito e explica que fugiu porque era homem, não podia
deixar passar uma oportunidade daquelas.
v Leléu conta a
história do boi que topou no meio da
rua para salvar um homem;
v Entra Lisbela para
reclamar que “esfregaram nas pedras” um boi que recebera de presente do
padrinho;
v Chega Dr. Noêmio,
noivo de Lisbela e a repreende por encontrá-la ali; quer conversar com o pai
dela sobre a alimentação da moça, pois ele é vegetariano e acha que ela não se
alimenta bem.
v Noêmio diz a Citonho
que ele está envenenado de tanto comer carne;
v Entra Tãozinho, vendedor
de passarinhos, e conta sua história com
Francisquinha , mulher de Raimundinho.
v Lisbela quer um
curió, mas o noivo diz que não gosta de ver animais presos;
v Leléu fica sozinho
com os amigos de cela: Paraíba e Testa-Seca. Estes o ameaçam de castração, mas
chega Frederico Evandro para falar com Leléu;
v Frederico explica
para Citonho o porquê de ser chamado “vela-de-libra”;
v Leléu Antônio da Anunciação:
Frederico fica sabendo o nome completo e oferece-se para fazer um favor a Leléu,
matando algum inimigo, em troca de tê-lo salvo do boi;
v Leléu não aceita,
diz que prefere seus inimigos vivos. A morte não pode se morta, por isso ela
era a maior inimiga;
v Frederico pergunta a
Leléu se ele já esteve em um lugar
chamado boa vista, mas o malandro diz que não;
v Frederico Evandro
parte;
v Leléu se sente
protegido agora porque o assassino profissional lhe devia um favor e os outros
presos ouviram a conversa e temem morrer pelas mãos do “Vela de Libra”...
SEGUNDO ATO
Leléu, com apetrechos de limpeza, conversa na
calçada da cadeia com o Cabo Heliodoro, que está armado de rifle.
HELIODOR: Você não sabe que eu não sou sargento?
Por que não chama Cabo Heliodoro?
LELÉU: É porque o senhor tem toda a pinta de
sargento.
HELIODORO: Conversa!
LELÉU: O senhor sabe o que eu queria ter,
sargento? A força dos touros. O aprumo de uma cavalo puro-sangue. Ser bom e
doce para as mulherinhas, como as chuvas de caju que caem de repente, no calor
mais duro de novembro. E livre, Sargento, Heliodoro. Como o vento num pasto
grande.
v Leléu e o cabo Heliodoro
conversam sobre inveja e liberdade; Leléu fica sabendo que o cabo tem um caso
extraconjugal;
v Heliodoro reclama da
esposa por ser muito repetitiva, por isso está enjoado e quer se casar com
outra;
v Leléu promete
arranjar um frade para casar Heliodoro em troco de este trazer Lisbela para
vê-lo, depois da meia noite.
v Leléu, entra de
volta na cela. Escutando a conversa de jaborandi, sugere que ele toque a
corneta no cinema, sem precisar correr para a delegacia;
v Chega Lapiau, amigo
de circo de Leléu, trazendo um violão, que é logo revistado por Citonho;
v Leléu explica a
lapiau o motivo de sua prisão: defloramento de uma menina de 15 anos;
v Leléu e lapiau
lembram as peças de teatro que fizeram juntos;
v Enquanto Tãozinho
dos passarinhos faz uma briga do lado de fora; Leléu aproveita para convencer
lapiau a se fingir de frade e conseguir três contos de réis e poder fugir com
os dois companheiros;
v Tãozinho entra na
delegacia explicando que a Francisquinha tem umas economias, mas que o
ex-marido agora quer metade. Leléu explica que não há lei pra corno, que Tãozinho poderia ficar com
dinheiro.
v Leléu recebe um
curió de presente de Tãozinho;
v Lisbela chega para
avisar Leléu que Inaura esteve na casa dela. A moça vinha avisar que o irmão
estava chegando para matá-lo. Talvez ele pudesse se livrar se fosse transferido
para recife.
v Leléu declara-se.
Quer ficar em vitória de santo antão, perto de Lisbela (bandeira brasileira);
v Leléu conta a
história do zepelim a Lisbela;
v Os presos temem que
a chegada do irmão de Inaura possa prejudicá-los. Morrerão todos!
v Leléu conta com a
ajuda do vela de libra;
v Tenente Guedes,
sabendo que Leléu pode ser morto, pretende deixá-lo sozinho numa cela e com
pouca proteção;
v Heliodoro descobre,
por meio das descrições feitas por Lisbela, que o irmão de Inaura é o mesmo Frederico
Evandro. Leléu desespera-se!
TERCEIRO
ATO
“Citonho e Heliodoro, do lado de fora, bebendo e
comendo, conversam, sentados no chão. São mais ou menos 9h30 da noite. A
lâmpada dos presos está apagada. Lapiau, que espreitava através das grades,
aproxima-se do carcereiro e de Heliodoro.”
v Lapiau conversa com Citonho e despede-se;
v Citonho e Heliodoro falam sobre o fato de Leléu
ter conseguido uma corda, com o Tenente Guedes, a pedido de Lisbela;
v Heliodoro revela a Citonho
que Lisbela visitou Leléu durante à noite três vezes;
v Tenente Guedes e pede
a Citonho que saia da delegacia para ir dar uma abraço em Lisbela, pois é a
festa de casamento dela;
v Pede a Heliodoro que
feche uma das saídas da cadeia;
v
Tenente
Guedes descobre que os presos fugiram e entra em pânico, pois fornecera a
corda a pedido de Lisbela;
v
Heliodoro
sai para chamar os praças e tenente Guedes fica sozinho;
v
Entra
Dr. Noêmio reclamando que Lisbela havia
desaparecido depois do casamento;
v
Chega
Lisbela vestida de homem. Quer saber se Leléu fugira.
v
Lisbela
revela que está apaixonada por Leléu, que fugiria com ele para qualquer lugar,
de corpo e alma;
v
Heliodoro
consegue trazer Testa-Seca e paraíba de volta, mas Leléu não.
v
Jaborandi
toca a corneta no cinema e vai preso;
v
Enquanto
a confusão continua entre os presos, libela , seu pai e Dr. Noêmio, chega de
livre e espontânea vontade Leléu;
v
Leléu
explica por que não fugiu com Lisbela, não queria fazer uma grosseria, mas
voltou para ficar perto dela;
v
Lisbela
pede insistentemente para que o pai a libere. Ela quer ir embora com Leléu.
Pega uma arma sobre a mesa e sai correndo.
v
Chega
Frederico Evandro furioso e encontra todos reunidos na delegacia;
v
Citonho
é obrigado a prender todos em uma cela;
v
Quando
Frederico conta até cinco para atirar em Citonho, que protegia Leléu, ouve-se
um tiro, mas é o Vela de Libra de cai.
Aparece Lisbela... com um revólver na mão!
v
Dr.
Noêmio vai pedir a anulação do casamento.
v
Testa-Seca
apodera-se do revólver de jaborandi e tenta atingir Tãozinho e o Tenente, mas
nenhum é alvejado. As balas eram de festim.
v
Atira
em Paraíba como teste, mas o mata. Havia apenas uma bala de verdade, como
esclarece jaborandi.
v
Revelação:
Lisbela não matou Vela de Libra, o valente morreu de susto. Ela está livre do
crime e da vingança.
v
Final
feliz: delegado fica com os ovos que Tãozinho ia dar a Leléu e reparte com Citonho.
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