Por Luci Rocha
O filme “O Cortiço”, de 1978, dirigido por Francisco Ramalho Jr., tem um roteiro baseado
no livro homônimo de Aluísio Azevedo, escrito em
1890.
Para
quem presta os vestibulares da Fuvest e da Unicamp, neste ano, e vai precisar
da análise dessa obra, deverá ficar atento para não tomar o filme como cópia
fiel, porque o que se nota é uma grande liberdade na realização das cenas e
pouco compromisso com a fidelidade ao enredo literário.
Na
filmagem, apenas três aspectos garantem a essência da história original:
● A
formação de um cortiço no Rio de Janeiro, no final de século XIX;
● A ambição e a exploração
do homem pelo próprio homem (“de um lado, João Romão, que aspira à riqueza, e
Miranda, já rico, que aspira à nobreza. Do outro lado, ‘a gentalha’,
caracterizada como um conjunto de animais, movidos pelo instinto e pela fome.”);
● As relações entre o elemento português, que explora o Brasil em sua ânsia
de enriquecimento, e o elemento
brasileiro, apresentado como inferior e vilmente explorado pelo português;
Entretanto,
o diretor não se prendeu às características exatas das personagens. Por exemplo,
Marciana e sua filha Florinda, que na obra são mulheres negras, no filme são apenas
morenas; outras loiras, como Pombinha, aparecem de cabelos escuros; velhos, como
o septuagenário Botelho, surgem mais jovens; ou jovens que se apresentam com
mais idade, como é o caso de Bruno.
Além
disso, as profissões de algumas também não correspondem e as relações ou graus de
parentesco entre elas são modificados em alguns episódios.
O que
vale no filme, sem dúvida, é o desempenho de alguns atores, principalmente da
atriz Bety Faria apresentando-se como Rita Baiana, com todo o ritmo e sedução
que a personagem exige.
De
tudo o que se confere, o mais grave é que o desfecho do filme toma um rumo bem
diferente daquele que Aluísio Azevedo escolheu para seu livro e isso pode
comprometer seriamente as respostas a serem dadas às perguntas desses
vestibulares, principalmente na segunda fase.
Diante
disso, aconselha-se que não se tome o filme como única fonte de conhecimento
sobre essa obra. O livro de Aluísio de Azevedo é muito bem escrito, apresenta
uma linguagem variada, com descrições precisas, cenas coloridas e muito
divertidas. Por isso, será muito mais proveitoso e prazeroso realizar a leitura
da obra e assistir a uma boa análise em aula para complementar seus estudos!