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domingo, 30 de junho de 2013

FILME: O Cortiço (1h49)



Por Luci Rocha

O filme “O Cortiço”, de 1978, dirigido por Francisco Ramalho Jr., tem um roteiro baseado no livro homônimo de Aluísio Azevedo, escrito em 1890.
Para quem presta os vestibulares da Fuvest e da Unicamp, neste ano, e vai precisar da análise dessa obra, deverá ficar atento para não tomar o filme como cópia fiel, porque o que se nota é uma grande liberdade na realização das cenas e pouco compromisso com a fidelidade ao enredo literário.
Na filmagem, apenas três aspectos garantem a essência da história original:
● A formação de um cortiço no Rio de Janeiro, no final de século XIX;
A ambição e a exploração do homem pelo próprio homem (“de um lado, João Romão, que aspira à riqueza, e Miranda, já rico, que aspira à nobreza. Do outro lado, ‘a gentalha’, caracterizada como um conjunto de animais, movidos pelo instinto e pela fome.”);
As relações entre o elemento português, que explora o Brasil em sua ânsia de enriquecimento, e o elemento brasileiro, apresentado como inferior e vilmente explorado pelo português;
Entretanto, o diretor não se prendeu às características exatas das personagens. Por exemplo, Marciana e sua filha Florinda, que na obra são mulheres negras, no filme são apenas morenas; outras loiras, como Pombinha, aparecem de cabelos escuros; velhos, como o septuagenário Botelho, surgem mais jovens; ou jovens que se apresentam com mais idade, como é  o caso de Bruno.
Além disso, as profissões de algumas também não correspondem e as relações ou graus de parentesco entre elas são modificados em alguns episódios.
O que vale no filme, sem dúvida, é o desempenho de alguns atores, principalmente da atriz Bety Faria apresentando-se como Rita Baiana, com todo o ritmo e sedução que a personagem exige.
De tudo o que se confere, o mais grave é que o desfecho do filme toma um rumo bem diferente daquele que Aluísio Azevedo escolheu para seu livro e isso pode comprometer seriamente as respostas a serem dadas às perguntas desses vestibulares, principalmente na segunda fase.

Diante disso, aconselha-se que não se tome o filme como única fonte de conhecimento sobre essa obra. O livro de Aluísio de Azevedo é muito bem escrito, apresenta uma linguagem variada, com descrições precisas, cenas coloridas e muito divertidas. Por isso, será muito mais proveitoso e prazeroso realizar a leitura da obra e assistir a uma boa análise em aula para complementar seus estudos!

FILMES REFERENTES ÀS OBRAS SOLICITADAS EM VESTIBULARES: VALE A PENA ASSISTIR?


VIDAS SECAS – Graciliano Ramos (1h40)


Por Luci Rocha

O filme Vidas Secas, de 1963, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, foi baseado no livro homônimo, de Graciliano Ramos.
O aspecto positivo de assistir ao filme, certamente, será a aquisição de mais informações sobre a caracterização dos elementos regionalistas dessa obra, como o cenário constituído de uma caatinga rala, de árvores secas, pássaros (urubus, aves de arribação), bichos (cabras, preás, cavalos, bezerros) e plantas típicas da região (mandacarus, xique-xiques, baraúnas, etc.).
Para quem pretende conhecer melhor o ambiente em que se passa a história dessa família de retirantes formada por Fabiano, Sinhá Vitória, o Menino mais velho e o Menino mais novo, o filme colabora em muito ao mostrar os pertences da família como o baú de folhas, a espingarda de pederneira, as roupas de vaqueiro, as alpercatas de couro.
Como foi filmado há 50 anos, em branco e preto, talvez o espectador sinta alguma estranheza diante das cenas, porém isso aumenta ainda mais o clima de pobreza e dificuldade, o que acaba tornando esse filme um ótimo apoio para a compreensão da obra de Graciliano Ramos.
O que não pode ser esquecido – e isso é um dos aspectos mais importantes do livro – é que o filme não apresenta narrador e o dessa obra tem sido bastante explorado em questões de vestibulares.
Dessa forma, antes de assistir ao filme, aconselha-se que se leia a obra ou faça um estudo paralelo das particularidades de seu narrador, cujo ponto de vista é muito especial: é um narrador em 3ª pessoa onisciente prismático, ou seja, ele filtra a realidade das personagens como se estivesse por trás da retina de cada uma delas, individualmente.
Além do narrador ausente, o filme também não fornece, naturalmente, a linguagem própria de Graciliano Ramos. Sua estrutura sintática exata, seu vocabulário enxuto e a investigação psicológica que ele faz dessas personagens só poderão ser alcançados com a leitura do livro.
Quanto à organização dos quadros (que são capítulos aparentemente soltos na obra), no filme também não se faz notar. Porém, uma questão referente a isso já foi solicitada em vestibulares, quando se perguntava a relação entre essa estrutura fragmentada da obra e a vida das personagens.
Ou seja, apenas assistir ao filme, para quem precisa da obra nos vestibulares deste ano, não será suficiente!