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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA, NOVELA DO LIVRO SAGARANA (1946)

A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA, NOVELA DO LIVRO SAGARANA (1946)

João Guimarães Rosa

Introdução

Classificadas como novelas, as “estórias” de Sagarana apresentam como cenário o interior de Minas Gerais, com seus povoados, vilas, vilarejos, arraiais, cidadelas, onde vivem fazendeiros, boiadeiros, capiaus, valentões, jagunços, belas caboclas, caboclos apaixonados, padres, “coronéis”, “majores”, crianças etc.
Guimarães Rosa pertence ao nosso Terceiro Momento Moderno, apresentando uma prosa universalizante e fabulosa, que se diferencia do regionalismo crítico e político do Segundo Momento, se comparado a escritores como Graciliano Ramos, Rachel de Queirós e Jorge Amado.
A hora e a vez de Augusto Matraga figura como último enredo apresentado no livro Sagarana e, segundo Guimarães Rosa, história mais séria, de certo modo síntese e chave de todas as outras, (...). Quanto à forma, representa para mim vitória íntima, pois, desde o começo do livro, o seu estilo era o que eu procurava descobrir.
Quanto à linguagem, Rosa apresenta, desde os primeiros trabalhos, uma novidade na construção linguística, que passa pelo experimentalismo, pois ele une o popular ao erudito e o regional ao universal, extraindo novos termos e sentidos poéticos por meio de figuras de linguagem (onomatopeias, comparações, metáforas, sinestesias, anacolutos, aliterações, assonâncias, etc.), neologismos, coloquialismos sertanejos, ditados populares, aforismos inéditos, cantigas sertanejas e interjeições típicas do grupo social apresentado (por exemplo, o bando de jagunços do Seu Joãzinho Bem-Bem)
Além da novidade linguística, os temas universais revelam-se em cada enredo de Rosa. Na novela analisada, surgem grandes temas como: o bem x mal; a violência; o misticismo; a conversão; a fé, a amizade, as tentações da vida.
O narrador está em 3ª pessoa onisciente, que revela os sentimentos mais profundos de cada personagem.
O cenário resume-se a lugares pelos quais passam o protagonista e são identificados como Pindaíbas, Arraial da Virgem Nossa Senhora das Dores do córrego do Murici, Povoado do Tombador e arraial do Rala-Coco. A fauna e a flora mineiras são ricamente apresentadas:

Mas, afinal, as chuvas cessaram, e deu uma manhã em que Nhô Augusto saiu para o terreiro e desconheceu o mundo: um sol, talqualzinho a bola de enxofre do fundo do pote, marinhava céu acima, num azul de água sem praias, com luz jogada de um para o outro lado, e um desperdício de verdes cá em baixo — a manhã mais bonita que ele já pudera ver.
Estava capinando, na beira do rego.
De repente, na altura, a manhã gargalhou: um bando de maitacas passava, tinindo guizos, partindo vidros, estralejando de rir. E outro. Mais outro. E ainda outro, mais baixo, com as maitacas verdinhas, grulhantes, gralhantes, incapazes de acertarem as vozes na disciplina de um coro.
Depois, um grupo verde-azulado, mais sóbrio de gritos e em fileiras mais juntas.
— Uai! Até as maracanãs!
E mais maitacas. E outra vez as maracanãs fanhosas. E não se acabavam mais. Quase sem folga: era uma revoada estrilando bem por cima da gente, e outra brotando ao norte, como pontozinho preto, e outra — grão de verdura — se sumindo no sul.
— Levou o diabo, que eu nunca pensei que tinha tantos! E agora os periquitos, os periquitinhos de guinchos timpânicos, uma esquadrilha sobrevoando outra... E mesmo, de vez em quando, discutindo, brigando, um casal de papagaios ciumentos. Todos tinham muita pressa: os únicos que interromperam, por momentos, a viagem, foram os alegres tuins, os minúsculos tuins de cabecinhas amarelas, que não levam nada a sério, e que choveram nos pés de mamão e fizeram recreio, aos pares, sem sustar o alarido — rrrl-rrril! rrrl-rrril!...
Mas o que não se interrompia era o trânsito das gárrulas maitacas. Um bando grazinava alto, risonho, para o que ia na frente: — Me espera!... Me espera!... — E o grito tremia e ficava nos ares, para o outro escalão, que avançava lá atrás.
— Virgem! Estão todas assanhadas, pensando que já tem milho nas roças... Mas, também, como é que podia haver um de-manhã mesmo bonito, sem as maitacas?!...
O sol ia subindo, por cima do voo verde das aves itinerantes. Do outro lado da cerca, passou uma rapariga. Bonita! Todas as mulheres eram bonitas. Todo anjo do céu devia de ser mulher. (Pág. 376 e 377)

Pela estrutura narrativa, pela riqueza de sua simbologia e pelo tratamento exemplar concedido à luta entre o bem e o mal e às angústias, que essa luta provoca em cada homem durante toda a vida, este conto é considerado o mais importante de Sagarana.
(Profª Luci Rocha)



Resumo

Eu sou pobre, pobre, pobre,
vou-me embora, vou- me embora.
Eu sou rica, rica, rica
vou-me embora, daqui...

(Cantiga Antiga)
Sapo não pula por boniteza,
mas, porém, por percisão!
(Provérbio Capiau)
Matraga não é Matraga, não é nada. Matraga é Esteves. Augusto Esteves, filho do Coronel Afonsão Esteves das Pindaíbas e do Saco da Embira. Ou Nhô Augusto - O homem - nessa noitinha de novena, num leilão de atrás de igreja, no arraial da Virgem Nossa Senhora das Dores do Córrego do Murici.

Augusto Matraga foi criado por uma avó, que o queria padre. No entanto, de herança de pai covarde e tio criminoso, enveredou para o mal.
A narrativa inicia-se em meio a uma festa religiosa, em que, num leilão, Matraga arrebata por cinquenta mil-réis uma prostituta, desagradando um capiau rude, de testa cabeluda, que estava interessado por ela. Matraga nem chega a usá-la, alegando que era muito feia: “Você tem perna de Manuel Fonseca: uma fina, outra seca!”
            Ele, de fato era pessoa rude, não civilizada. Além de bandido e violento, tratava com pouco caso sua esposa, Dionóra, e sua filha, Mimita. Só queria saber de jogo, caçada e mulheres de vida fácil.
            No entanto, sua sorte mudou. Sua esposa o abandona, passando a viver, com a filha, em companhia de um homem chamado Ovídio. Matraga não pôde vingar a ofensa, pois recebeu a notícia, dada pelo Quim Recadeiro, de que seus capangas, com exceção de Quim Recadeiro, também o abandonaram, passando para o lado do Major Consilva.
            Augusto vai tomar satisfações pela afronta, sem perceber que o destino virou-se contra ele: não tem mais apoio político, está cheio de dívidas e suas terras estão hipotecadas. Como o próprio narrador comenta, não havia se tocado de que era momento de parar umas rodadas, deixar de jogar, pois o azar havia chegado.
            Ao chegar à fazenda do Major, é cercado pelos capangas do vilão, alguns ex-subordinados de Matraga. Então é espancado, marcado por ferro em brasa e, antes de sofrer o pior, atira-se de um altíssimo barranco. Para seus inimigos, estava morto. Mas é resgatado e cuidado por um casal de velhos negros: Quitéria e Serapião.. Ficou dias inconsciente. Voltou a si, e conhecendo sua situação, desejou a morte.
            Com o tempo, Matraga volta a ter paixão pela vida. Os meses que passa se recuperando das feridas e fraturas é o tempo suficiente para se arrependa dos pecados e abrace ao cristianismo. No seu jeito rude, fica até cômica a convicção em afirmar que vai para o Céu, nem que seja a porrete.
            Começa sua fase de penitências. Vai com os velhinhos a uma propriedade sua perdida e distante, o povoado do Tombador. Mostra-se trabalhador, misto de louco e santo no olhar do povo. Vive dessa forma por quase sete anos.
            Um dia, sofreu uma dura tentação. Um antigo conhecido, o Tião da Teresa, passa por lá e surpreende-se ao descobrir Matraga, agora totalmente mudado. Traz notícias muito inconvenientes: Dionóra estava para se casar com Ovídio, crente de que estava viúva. Major Consilva apoderou-se das terras do protagonista. Quim, frouxo e atrapalhado, havia sido o único a se levantar em defesa do patrão, mas fora morto no momento em que, tomado de fúria, entrara nas terras do Major com a intenção de vingança. Mimita, sua filha, se tornara prostituta.
            É um momento cruel para Augusto. Deus o havia abandonado? Merecia mesmo o Céu? Mas, como o bíblico Jó, resiste bravamente à tentação de buscar vingança.
            E que vem o período de chuvas, que, não por coincidência, é o momento em que Matraga acaba por sentir como se tivesse tirado um peso das costas. As águas, opondo-se ao pó de outras épocas, simbolizam o batismo, a sublimação, a elevação.
            É então que surge o bando de Joãozinho Bem-Bem, homem da mesma estirpe do antigo Augusto Matraga. Suas intenções provavelmente eram malévolas naquela região, mas o amor e a dedicação com que o protagonista o recebe desarma o cangaceiro.
            O bandido intui o poder bélico de Matraga, por isso o convida a fazer parte da empreitada. É uma forte tentação: o herói sente saudade do poder de desmando que possuía. Imagina até a possibilidade de vingar a morte de Quim. Mas resistiu a mais essa tentação. Estava evoluindo a passos largos.
            Joãozinho Bem-Bem parte, deixando Matraga, mas levando uma afeição enorme por ele.
           Dias depois, enquanto Augusto trabalhava, presenciou uma belíssima explosão de pássaros voando. Sua intuição lhe diz algo maravilhoso, que o faz pensar o dia inteiro. Até que toma uma resolução: decide partir. Faz sua viagem em um jumento, animal carregado de simbologia cristã, pois havia carregado Maria às vésperas do nascimento de Cristo. Carregara, pois, o salvador.
            Matraga viaja muitos dias, até chegar ao arraial do Rala-Coco, que estava em polvorosa. O bando de Joãozinho Bem-Bem lá se abancara, prestes a realizar um crime hediondo.
            Um dos capangas do facínora, Juruminho, fora morto pelas costas, Joãozinho resolve vingar-se em cima da família do assassino, pretendendo matar o filho mais novo e entregar as irmãs moças aos seus homens. No momento em que Augusto havia chegado, o pai do fugitivo tinha aparecido e pedido clemência pela vida de inocentes. Joãzinho não se compadece e insiste em vingar a morte de seu amigo Juruminho. Porém, o velho pai suplica em nome nosso Senhor Jesus Cristo e isso comove Augusto.
            É nesse instante que Augusto Esteves intercede. Mesmo havendo um enorme apreço entre Joãozinho e o herói, os dois começam a se desentender. O bandido está tomado de um maligno espírito vingativo. Matraga defende a bondade divina, sempre pedindo para seu opositor evitar uma tragédia injusta, sempre clamando pelo nome de Deus.
            O inevitável acontece. Há uma terrível luta. Tiros de todos os lados. Os dois saem feridos, mas Matraga, sempre invocando o nome do Senhor e pedindo para seu amigo se arrepender dos pecados, acaba vencendo, rasgando a barriga de Joãozinho, que morre segurando nas mãos suas entranhas.
            Augusto Matraga estava morrendo, mas contente. Aclamado como santo e salvador entre o povo que tenta socorrê-lo, ainda tem tempo para fazer com que respeitassem o cadáver de Joãozinho Bem-Bem, mandando que o enterrassem dignamente. Além disso, pede a um primo que ali está, o João Lomba, que leve a bênção a sua filha Mimita, e diga a Dionóra que está tudo bem...
            Morre, porque havia chegado a sua hora e a sua vez. Havia realizado sua missão, cumprido os planos de um misterioso desígnio divino. Estava salvo. Ia para o Céu.

Resumo adaptado e corrigido de:   
http://www.passeiweb.com/estudos/livros/a_hora_e_vez_de_augusto_matraga_conto

Problemática e principais temas

A novela A Hora e Vez de Augusto Matraga ocupa um lugar de destaque dentro da antologia de Sagarana, uma vez que representa o fechamento em círculo da temática iniciada em O Burrinho Pedrês de que um único momento pode valer por toda uma existência. Sabemos que a força mística de Guimarães Rosa é também manifestada na presente obra, já que, simbolicamente, o protagonista da ação é alçado à condição de um Cristo. Nhô Augusto deixa o arraial montado num burrinho. Este é considerado até mesmo na obra como um elemento sagrado (... porque mãe Quitéria lhe recordou ser o jumento um animalzínho assim meio sagrado, muito misturado às pas­sagens da vida de Jesus), já que na Bíblia Cristo entrou em Jerusalém montado num desses animais. A caminhada do protagonista simboliza o homem em busca de seu destino. E qual seria o destino a ser cumprido? Claro que a salvação de Matraga só poderia surgir a partir da justiça divina com a negação de seu próprio ser físico em favor da justiça entre os homens.
Ao salvar inocentes da sanha vingativa de Joãozinho Bem-Bem, Nhô Augusto encontra também a sua redenção final, obtida com seu trabalho, sua reza e a fé de que teria sua hora e vez. Matraga dá a vida, como Cristo, pelos seus semelhantes (Foi Deus quem mandou esse homem no jumento, por mór de salvar as famílias da gente!...)
A força temática desse conto de que um momento pode valer por toda uma vida, encontra em Nhô Augusto o momento de êxtase dentro da obra de Guimarães Rosa. A persistência e fé do protagonista, verdadeiro herói mítico moderno, faz com que a purificação de sua alma seja completa e sua santificação plena.
A trajetória heroica de Augusto Matraga, que desce do espaço dos poderosos para o dos oprimidos e marginalizados, recorda-nos o fato de que realmente parece não haver mais espaço para as grandes epopeias clássicas, para os heróis míticos do passado, pois o homem moderno traz em si não apenas o herói, mas também o covarde, não só o bem, mas também o mal está, como o protagonista comprova, mais próximo do homem barroco com suas dualidades e ambiguidades do que do clássico. As verdadeiras epopeias modernas, como podemos considerar em A hora e vez de Augusto Matraga, são protagonizadas por homens comuns que se entregam à derrota ou lutam arduamente através de seus corpos e de suas almas, esperando que surja a sua hora e vez.


Personagens

Augusto Esteves Matraga - é o protagonista da obra. Muda de nome de acordo com as passagens significativas de sua vida, o que nos permite enxergar nele uma projeção dos heróis míticos. Matraga transforma-se num homem bom e abnegado, trabalhador e rezador, depois de ter sido mau, mulherengo e violento. Seu comportamento desregrado levou-o a perder a fortuna, a mulher e a filha, tendo quase perdido a vida. Depois de uma surra aplicada pelos capangas do Major Consilva, Matraga sentiu-se renascer como outro homem. Foi obrigado a esconder-se dos inimigos ao pé de um morro, com um casal de pretos velhos que o salvou. Terminou sua trajetória matando o famoso chefe de jagunços Joãozinho Bem-Bem para salvar uma família inocente. Na batalha, também perdeu a vida, mas foi em paz.
Quitéria e Serapião: Casal de velhos, isolados e religiosos, que cuidaram da recuperação de Nhô Augusto e colaboraram com sua redenção.
Angélica e Tomázia (Sariema): prostitutas do córrego do Murici. Sariema foi arrematada em leilão por Nhô Matraga.
Quim Recadeiro: Homem de confiança de Nhô Augusto. Covarde, mas leal. Depois do sumiço de Augusto, enfrenta o Major Consilva e é morto com mais de vinte balas.
Major Consilva - Era inimigo de Nhô Augusto, tendo também sido inimigo do pai do protagonista. Homem mau e rico, toma posse das propriedades de Nhô Augusto, depois da suposta morte deste.
Dona Dionóra: Era mulher de Nhô Augusto. Acabou não aguentando mais o desprezo do marido e fugiu com Ovídio Moura.
Ovídio Moura: Rico fazendeiro, que amava Dionóra e tirou-a do marido, fazendo-a feliz.
Mimita: É filha de Nhô Augusto. Percebe, ainda menina, que o pai não gosta dela e da mãe. Acaba se tornando prostituta, depois de ser levada do lugar por um mascate. Nessa ocasião, tinha 17 anos.
Joãozinho Bem-Bem - Famoso chefe de jagunços. Homem temido e destemido no sertão. Faz justiça com as próprias mãos ou armas, defendendo seus aliados e eliminando seus inimigos. Pressente em Nhô Augusto uma força oculta que os aproxima. Representa a tentação que surge para destruir os projetos de redenção do protagonista, mas por outro lado, também colabora com esse projeto quando mata Augusto.
Tião da Thereza - Conterrâneo de Nhô Augusto. Encontra-o no povoado do Tombador e coloca-o a par dos acontecimentos posteriores à sua suposta morte.
João Lomba: primo distante de Augusto Esteve, que o encontra na hora de sua morte, no arraial do Rala-Coco.
Juruminho, Flosino Capeta, Tim Tatu-tá-te-vendo, Zeferino, Epifânio, Teófilo Sussuarana, Cangussu: capangas de Joãzinho Bem-Bem. (Luci Rocha)

SONETOS, de Camões



SONETOS, de Camões

(Organização: Luci Rocha)

1) Contexto histórico: Vantagens e consequências das Grandes navegações, reinado de D. Sebastião e D. Felipe II.
2) Período Literário: Classicismo Renascentista português.
3) Linguagem: clássica
4) Recursos Literários: Figuras de linguagem: metáfora, anáfora, antítese, paradoxo, hipérbato, hipérbole etc.

5) Estrutura: São um total de 168 poemas publicados a partir de 1595 (considerando que Camões falecera em 1580). Os sonetos Camonianos, em sua maioria, seguem o modelo petrarquista: 14 versos, divididos em 2 quartetos e 2 tercetos; com metros decassílabos heroicos (subida na declamação na 6ª e na 10ª sílabas); disposição de rimas (pobres ou ricas) em ABBA ABBA, nos quartetos; e variações nos tercetos que, geralmente, apresentam rimas distribuídas em  DCD DCD, CDE CDE ou DCD CDC.



136
A fermosura fresca serra,
e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha terra,
o esconder do sol pelos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza
com tanta variedade nos ofrece,
me está (se não te vejo) magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
sem ti, perpetuamente estou passando
nas mores alegrias, mor tristeza.

101
Ah! minha Dinamene! Assi deixaste
quem não deixara nunca de querer-te?
Ah! Ninfa minha! Já não posso ver-te,
tão asinha esta vida desprezaste!

Como já para sempre te apartaste
de quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te,
que não visses quem tanto magoaste?

Nem falar-te somente a dura morte
me deixou, que tão cedo o negro manto
em teus olhos deitado consentiste!

Ó mar, ó Céu, ó minha escura sorte!
Que pena sentirei, que valha tanto,
que inda tenho por pouco o viver triste?


005
(Tercetos)

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

129
Na ribeira do Eufrates assentado,
Discorrendo me achei pela memória
Aquele breve bem, aquela glória,
Que em ti, doce Sião, tinha passado.

Da causa de meus males perguntando
Me foi: - Como não cantas a história
De teu passado bem, e da vitória
Que sempre de teu mal hás alcançado?

Não sabes que a quem canta se lhe esquece
O mal, inda que grave e rigoroso?
Canta, pois, e não chores dessa sorte.

Respondo com suspiros: - Quando cresce
A muita saudade, o piadoso
Remédio é não cantar senão a morte.

120
Cá nesta Babilónia donde mana
Matéria a quanto mal o mundo cria;
Cá onde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

Cá onde o mal se afina e o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana;

Cá neste labirinto, onde a nobreza,
Com esforço e saber pedindo vão
Às portas da cobiça e da vileza;

Cá neste escuro caos de confusão,
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!




SONETOS SELECIONADOS

1) Natureza que emoldura os sentimentos do eu lírico; retomada de temas das cantigas medievais de amigo; fuga do tema central (maneirismo).

A fermosura desta fresca serra (1668 - soneto 136)
Esta lascivo e doce passarinho (1595 - soneto 014)
O Céu, a terra, o vento sossegado (1616 - soneto 106)
Como quando do mar tempestuoso (1598 - soneto 043)

2) Homenagem à amada morta, Dinamene.

Ah! Minha Dinamene! Assi deixaste (1685-1668 - soneto 101)
Alma minha gentil, que te partiste (1595 - soneto 080)
Quando de minhas mágoas a comprida (soneto 100)

3) Análise filosófica e reflexiva do Amor (platônico e aristotélico).

Transforma-se o amador na cousa amada (1595 - soneto 020)
Pede o desejo, Dama, que vos veja (1595 - soneto 008)
Enquanto quis Fortuna que tivesse (1595 - soneto 001)
Amor é um fogo que arde sem se ver (soneto 005)
Busque Amor novas artes, novo engenho (l595 - soneto 003)
Vencido está de amor meu pensamento (1685-1668 - soneto 145)

4) Referência bíblicas para refletir sobre o Amor ou a Pátria.

Sete anos de pastor Jacob servia (1595 - soneto 030)
Na ribeira do Eufrates assentado (soneto 129)
Cá nesta Babilônia? donde mana (1616 - soneto 120)

5) O desconcerto pessoal  (sentimentos autobiográficos).

De vos me aparto, ó vida! Em tal mudança (1595 - soneto 057)
O dia em que eu nasci, moura e pereça (1860 - v)

6) Os efeitos da efemeridade da vida e da passagem do tempo.

O tempo acaba o ano, o mês e a hora (1668 - soneto 133)

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (1595 - soneto 092) 

Leitura dos sonetos na íntegra em; http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf

NEGRINHA, Monteiro Lobato (1920)

NEGRINHA, Monteiro Lobato (1920)

1) Estrutura: Conto
3) Período Literário: Pré-Modernismo
2) Contexto histórico: Embora distante três décadas da proclamação da República e da extinção da escravidão, o Brasil ainda vivia efeitos da transição da Monarquia para a República e do trabalho escravo para o trabalho livre.
            O país, que até então tinha sua estrutura social baseada no meio rural e a estrutura econômica dependente da mão de obra escrava, passava por inúmeras transformações. A indústria começava a se desenvolver e o processo de urbanização avançava. O Brasil modernizava-se, mas o preconceito racial contra aqueles que tinham a pele negra ou parda, antigos escravos e seus descendentes, permanecia o mesmo.

4) Cenário: uma fazenda cuja proprietária chama-se D. Inácia.
5) Narrador: 3ª pessoa onisciente.
6) Linguagem: fluente, moderna, vocabulário regional.
7) Temas:  a mentalidade escravocrata que persistia tempos depois da abolição; violência contra a criança; hipocrisia religiosa das elites rurais.
8) Recursos Literários: A ironia apresenta-se como figura de linguagem mais evidente.
9) Personagens: D. Inácia, Negrinha, a criada, duas sobrinhas de D. Inácia.



OPRESSÃO E PRECONCEITO
Prof. Sergio Manoel Rodrigues

            A partir do título dessa obra de Monteiro Lobato, nota-se, pela utilização do sufixo –inha, o tratamento pejorativo dado à personagem principal no decorrer do conto, apresentada como “[…] uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados”. (LOBATO, 2000, p. 09). Características estas que não revelam apenas as características físicas da menina, mas também sua condição social e seu constante estado psicológico.
            Negrinha é vítima de um meio social injusto e preconceituoso, cujos padrões se valem da submissão dos mais fracos e da hipocrisia. Dona Inácia, a dona da fazenda, representa isso, pois enquanto agride a menina, caracteriza-se por seu status e suas falsas virtudes: “Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu […] Mas não admitia choro de criança”. (LOBATO, 2000, p. 09).
Observando a caracterização física e psicológica dessas duas personagens, pode-se chegar à seguinte oposição:

D. Inácia = adulta, rica, branca, opressora, gorda, “dona do mundo”, “virtuosa”
X
Negrinha = criança, pobre, negra, oprimida, magra, “atrofiada”, “peste”

Quadro: posição social das personagens.

            Com base no quadro acima e considerando os estudos acerca das narrativas literárias, os seres ficcionais do conto podem ser vistos como personagens-estado, já que nestas “[…] os dados atributivos e designativos passam a ser invocados na constituição do ser ficcional, privilegiando-se estes […] supõem[-se] a presença de um enunciador que os manipula […]”. (SEGOLIN, 1999, p. 61). Essa narração propõe tal concepção de personagem, baseando-se em caracteres físicos e psicológicos, na qual ambas são tratadas de formas bastante diferentes: a começar por suas denominações, enquanto uma possui nome e até forma respeitosa de tratamento (D. Inácia), a outra atende apenas por uma alcunha (Negrinha); uma usa da razão e é bem vista pela sociedade, já a outra é inocente e humilhada por todos.
            No entanto, as duas personagens pertencem a um mesmo contexto sócio-histórico do Brasil: “Lobato situa a história de Negrinha em um tempo em que a escravidão havia sido abolida por lei – mas leis não têm força para abolir costumes culturais […]”. (BIGNOTTO, 2006, [s.p.]). Desse modo, percebe-se que D. Inácia não se adequou à abolição da escravatura e Negrinha continuava escrava. Por isso, a menina guarda as marcas da hostilidade, que chegam ao ápice da violência, seja pelas agressões físicas, pelo desafeto ou pelos castigos que recebe dos habitantes da casa-grande:
            Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão […] Pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata choca, pinto gorado, mosca morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa ruim, lixo – não tinha conta o número de apelidos com que a mimoseavam […] O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa todos os dias, houvesse ou não houvesse motivo. (LOBATO, 2000, p. 10-11).
            A não-identidade da menina demonstra que ela não é considerada um ser humano pelos demais, mas sim um objeto, sobretudo um animal que não possui alma e precisa ser domesticado. Ela não pode andar pela casa, brincar e, nem mesmo, falar, segundo Lobato (2000, p. 10), “[…] feito um gato sem dono, levada a pontapés […] que às soltas reinaria no quintal, estragando as plantas […]”, pois seria castigada pela realização de um de seus atos, quando, por exemplo, é forçada a engolir um ovo fervendo como forma de castigo por uma de suas travessuras: “Negrinha abriu a boca como o cuco, e fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água ‘pulando’ o ovo e zás! na boca da pequena […]”. (LOBATO, 2000, p. 14).
            Nesse sentido, deve-se dizer que, inicialmente, Negrinha pode ser considerada uma personagem monológica (BAKHTIN apud BEZERRA, 2005), devido às suas características individuais, pela aceitação de sua situação miserável e por não ir contra a realidade em que vive, o que equivale à não-ativação de pontos de vista questionadores. Logo, essa primeira etapa da personagem mostra toda sua passividade diante das crueldades do preconceito e das desigualdades sociais.
            Entretanto, há no texto uma reviravolta dessa personagem. Negrinha, até então a única criança da casa, passa a conviver com duas sobrinhas de Dona Inácia. As duas garotinhas representam o mundo burguês, já que são descritas como louras, ricas e possuidoras de brinquedos caros. Elas, em alguns aspectos, assemelham-se à Negrinha, pois são crianças apresentadas apenas por seus atributos físicos. Todavia, as sobrinhas comportam-se conforme as normas de uma época e de uma classe social: “Riram-se as fidalgas de tanta ingenuidade. – Como é boba! disseram. E você como se chama? – Negrinha. As meninas novamente torceram-se de riso […]”. (LOBATO, 2000, p. 17). É nesse deboche inocente que se percebe a incorporação de um julgamento social, peculiaridade esta que Negrinha não possuía até então. Quando Negrinha se depara com as duas brincando na sala, entra em contato com outro universo e adquire uma consciência individual:
[…] Negrinha viu-as irromperem pela casa como dois anjos do céu – alegres, pulando e rindo […] Quê? Pois não era crime brincar? Estaria tudo mudado – e findo o seu inferno – e aberto o céu? No enlevo da doce ilusão, Negrinha levantou-se e veio para a festa infantil, fascinada pela alegria dos anjos.Mas a dura lição da desigualdade humana lhe chicoteou a alma. Beliscão no umbigo, e nos ouvidos o som cruel de todos os dias: ‘Já para o seu lugar, pestinha! Não se enxerga?’ […] Brincar! Como seria bom brincar! – refletiu com suas lágrimas, no canto, a dolorosa martirzinha […]. (LOBATO, 2000, p. 15).
            A pobre órfã entra em outro estágio, devido ao conflito consciente em relação a si e ao mundo, ou seja, é a tomada de consciência por ela mesma. Desta forma, transforma-se em uma personagem dialógica (BAKHTIN apud BEZERRA, 2005), cuja voz interior faz questionamentos e reflexões acerca de sua condição como ser humano. Imediatamente, a menina passa a externar seus pensamentos: “Era de êxtase o olhar de Negrinha. Nunca vira uma boneca e nem sequer sabia o nome desse brinquedo […] – É feita?… perguntou extasiada”. (LOBATO, 2000, p. 16-17). Nesse trecho, em que o autor coloca voz na boca de Negrinha pela primeira vez no conto, ela assume a consciência de toda criança e sente-se gente: “Varia a pele, a condição, mas a alma da criança é a mesma – na princesinha e na mendiga […] Negrinha, coisa humana, percebeu nesse dia da boneca que tinha uma alma”. (LOBATO, 2000, p. 19). Portanto, a boneca é para Negrinha a representação da igualdade, da liberdade e da humanidade, por isso, quando as sobrinhas vão embora e levam consigo a boneca, a menina morre triste e solitária ao se encontrar da mesma forma lastimável como vivia antes.
            De acordo com a classificação de Forster (apud JUNIOR, 1995), Negrinha é uma personagem redonda (esférica) – característica esta que se atribui aos seres ficcionais que sofrem uma alteração de caráter durante a narrativa –, devido à sua conscientização, visto que essa personagem lobatiana, por meio da complexidade de suas características psicológicas que se concretizam no enredo do conto, humaniza-se dentro da trama como representante de três grupos sociais brasileiros: o escravo, a mulher e a criança, cujas trajetórias na História não foram bem sucedidas. Portanto, como afirma Bignotto (2006, [s.p.]), “[…] Negrinha […] não tem nome porque é uma multidão” e, dessa forma, nota-se a representação da realidade e do pensamento do homem de uma época.
            Quanto ao narrador de Negrinha, este se apresenta como extradiegético, que, conforme Segolin (1999), tal classificação designa um narrador que conta uma história que não é a sua, e, no caso desse conto, o discurso irônico presente no foco narrativo é recorrente, exemplificando: “A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fôra senhora de escravos […]”. (LOBATO, 2000, p. 12). Nesse sentido, percebe-se que esse tratamento dado ao narrador serve como uma forma de denunciar os problemas sociais presentes no contexto em que as personagens estão inseridas. Contudo, a discursividade desse foco narrativo mostra-se polifônica, haja vista que as vozes narrativas envolvem-se em uma interação:
            Uma criada abriu-se e tirou os brinquedos. Que maravilha! Um cavalo de pau!… Negrinha arregalava os olhos. Nunca imaginara coisa assim tão galante. Um cavalinho! E mais… Que é aquilo? Uma criancinha de cabelos amarelos… que falava ‘mamã’… que dormia […]. (LOBATO, 2000, p. 16).
            A polifonia desse conto, como ocorre na citação acima em que a voz do narrador funde-se às reflexões de Negrinha, equivale ao enfoque das manifestações do mundo interior das personagens ou, segundo BEZERRA (2005, p. 193), “[…] à libertação do indivíduo, que de escravo mudo da consciência do autor se torna sujeito de sua própria consciência […]”. Assim, nesse conto de Monteiro Lobato, a protagonista se antropomorfiza por completo ao assumir um fluxo de consciência próprio, tornando-se plural perante um mundo transformado pelas mudanças sociais e ideológicas.


LISBELA E O PRISIONEIRO (Osman Lins)



(Análise de Luci Rocha)

1) GÊNERO: Teatro – comédia de costumes (1964);
2) CENÁRIO: Cadeia da cidade de vitória de santo antão , PE;
3) LINGUAGEM: Regional e coloquial, marcada pela presença de ditados populares.
4) TEMAS:- Sátira às autoridades corrompidas e nefastas (Ten. Guedes); - Elogio da esperteza (Leléu) e dos bons sentimentos (Citonho, Cabo Heliodoro) contra a tirania (Ten. Guedes), a violência e a estupidez (Vela de Libra, Testa-Seca e Paraíba); - Crítica ao cerceamento à mulher da sociedade patriarcal (Ten. Guedes e Dr. Noêmio); - Elogio da busca de autenticidade e da ousadia na busca de uma vida que valha a pena ser vivida (Leléu e Lisbela).

5) PERSONAGENS

Leléu: Um funâmbulo (equilibrista que anda sobre a corda bamba), ator e violeiro; o prisioneiro do título da obra. Possuiu várias identidades e mulheres diferentes.
Lisbela: Filha do Tenente Guedes e noiva de Dr. Noêmio. Apaixona-se por Leléu.
Tenente Guedes: Delegado da cadeia local, viúvo e cuidadoso coma filha. Afirma com frequência que sua profissão é um fardo.
Dr. Noêmio: Noivo de Lisbela, advogado formado no Rio,  vegetariano e um tanto hipocondríaco.
Citonho: Velho carcereiro de onde Leléu e seus dois companheiros de cela estão presos. Citonho tem a fama de ser caduco, velho e fraco (por mais que não seja nem caduco e nem bobo).
Jaborandi: Soldado e corneteiro de onde Leléu e seus dois  companheiros de cela estão presos. Fascinado por séries de cinema.
Lapiau: Artista de circo e amigo de Leléu.
Frederico Evandro: Assassino Profissional, irmão de Inaura, moça que fora seduzida por Leléu. Frederico possui o apelido de “Vela-de-libras” por acender uma grande vela e rezar o padre nosso às suas vítimas, quando as executa.
Heliodoro:  Cabo de Destacamento.
Juvenal:  Soldado
Testa-Seca e Paraíba:  Companheiros de cela de Leléu.
Tãozinho: Vendedor ambulante de pássaros que roubou a mulher de um senhor apelidado Raimundinho.

INTERTEXTUALIDADE COM O CINEMA (fragmento)

JABORANDI: Ai o rapazinho fez tãe, tãe, tãe...Cada murro! Os bandidos chega viravam.
TESTA-SECA: Isso é mentira.
JABORANDI: Mentira o quê? É verdade.
TESTA-SECA: É mentira.
CITONHO: Eu, por mim, só acreditava se visse.
JABORANDI: E eu não vi?
CITONHO: Você viu no cinematógrafo.
PARAÍBA: E como foi que terminou?
JABORANDI: Hein? Ah, sim! Quando estava nisso, o artista pegou um revólver no chão e meteu o dedo. Mas cadê bala? Aí, um bandido apanhou um garfo, rapaz, desse tamanho!, e partiu pro rapazinho. Ele foi recuando, recuando e trãe, pulou pela janela do décimo andar.
CITONHO: Vai ver que nem morreu nem nada.
JABORANDI: Agora só na próxima semana.
CITONHO: Mas isso é que é ser uma besteira. Esperar uma semana pra ver se esse camarada morreu ou não morreu. Não morre nunca!
JABORANDI: Morre nada. Morrer o quê?
TESTA-SECA: Então é mentira. Cair duma altura esquisita e não morrer!
JABORANDI: Você não sabe o que é isso, não. Aquele pulo é um episódio. Entende? Episódio. Na última    hora acontece uma coisa. Aí é que está o ruim: a gente passar uma semana sofrendo, bolando que coisa é    essa.

RESUMO DO PRIMEIRO ATO

v  Conversa de jaborandi com outros presos e com o carcereiro Citonho;
v  Entrada do tenente Guedes, sempre dizendo que autoridade é um fardo; reclama da fuga de Leléu, depois de se apresentar no noivado da filha;
v  O tenente, para provar sua persistência conta como foi que conseguiu engravidar a mulher: tomou 84 vidros  de elixir de nogueira, por isso a menina se chama Lisbela de nogueira;
v  Os presos Testa-Seca sugere que coloque Leléu na cela junto com ele e Paraíba;
v  Citonho demonstra simpatia por Leléu;
v  Testa-Seca reclama que Leléu deflorou 8 virgens e ele próprio nunca teve uma mulher;
v  Citonho fala difícil e os outros perguntam com frequência o significado dos termos (matrimoniar-se, por exemplo, eles não sabiam o que era);
v  O tenente Guedes sugere capar Leléu;
v  Leléu aparece com o soldado Juvenal e com o cabo Heliodoro;
v  Leléu cumprimenta safadamente os amigos;
v  O tenente pede para ele se ajoelhar e dá-lhe uns tapas;
v  Leléu reclama que o tenente não tem esse direito e explica que fugiu porque era homem, não podia deixar passar uma oportunidade daquelas.
v  Leléu conta a história do boi que topou no meio da rua para salvar um homem;
v  Entra Lisbela para reclamar que “esfregaram nas pedras” um boi que recebera de presente do padrinho;
v  Chega Dr. Noêmio, noivo de Lisbela e a repreende por encontrá-la ali; quer conversar com o pai dela sobre a alimentação da moça, pois ele é vegetariano e acha que ela não se alimenta bem.
v  Noêmio diz a Citonho que ele está envenenado de tanto comer carne;
v  Entra Tãozinho, vendedor de passarinhos,  e conta sua história com Francisquinha , mulher de Raimundinho.
v  Lisbela quer um curió, mas o noivo diz que não gosta de ver animais presos;
v  Leléu fica sozinho com os amigos de cela: Paraíba e Testa-Seca. Estes o ameaçam de castração, mas chega Frederico Evandro para falar com  Leléu;
v  Frederico explica para Citonho o porquê de ser chamado “vela-de-libra”;
v  Leléu Antônio da Anunciação: Frederico fica sabendo o nome completo e oferece-se para fazer um favor a Leléu, matando algum inimigo, em troca de tê-lo salvo do boi;
v  Leléu não aceita, diz que prefere seus inimigos vivos. A morte não pode se morta, por isso ela era a maior inimiga;
v  Frederico pergunta a Leléu se ele já esteve em um  lugar chamado boa vista, mas o malandro diz que não;
v  Frederico Evandro parte;
v  Leléu se sente protegido agora porque o assassino profissional lhe devia um favor e os outros presos ouviram a conversa e temem morrer pelas mãos do “Vela de Libra”...


SEGUNDO ATO

Leléu, com apetrechos de limpeza, conversa na calçada da cadeia com o Cabo Heliodoro, que está armado de rifle.
HELIODOR: Você não sabe que eu não sou sargento? Por que não chama Cabo Heliodoro?
LELÉU: É porque o senhor tem toda a pinta de sargento.
HELIODORO: Conversa!
LELÉU: O senhor sabe o que eu queria ter, sargento? A força dos touros. O aprumo de uma cavalo puro-sangue. Ser bom e doce para as mulherinhas, como as chuvas de caju que caem de repente, no calor mais duro de novembro. E livre, Sargento, Heliodoro. Como o vento num pasto grande.

v  Leléu e o cabo Heliodoro conversam sobre inveja e liberdade; Leléu fica sabendo que o cabo tem um caso extraconjugal;
v  Heliodoro reclama da esposa por ser muito repetitiva, por isso está enjoado e quer se casar com outra;
v  Leléu promete arranjar um frade para casar Heliodoro em troco de este trazer Lisbela para vê-lo, depois da meia noite.
v  Leléu, entra de volta na cela. Escutando a conversa de jaborandi, sugere que ele toque a corneta no cinema, sem precisar correr para a delegacia;
v  Chega Lapiau, amigo de circo de Leléu, trazendo um violão, que é logo revistado por  Citonho;
v  Leléu explica a lapiau o motivo de sua prisão: defloramento de uma menina de 15 anos;
v  Leléu e lapiau lembram as peças de teatro que fizeram juntos;
v  Enquanto Tãozinho dos passarinhos faz uma briga do lado de fora; Leléu aproveita para convencer lapiau a se fingir de frade e conseguir três contos de réis e poder fugir com os dois companheiros;
v  Tãozinho entra na delegacia explicando que a Francisquinha tem umas economias, mas que o ex-marido agora quer metade. Leléu explica que não há  lei pra corno, que Tãozinho poderia ficar com dinheiro.
v  Leléu recebe um curió de presente de Tãozinho;
v  Lisbela chega para avisar Leléu que Inaura esteve na casa dela. A moça vinha avisar que o irmão estava chegando para matá-lo. Talvez ele pudesse se livrar se fosse transferido para recife.
v  Leléu declara-se. Quer ficar em vitória de santo antão, perto de Lisbela (bandeira brasileira);
v  Leléu conta a história do zepelim a Lisbela;
v  Os presos temem que a chegada do irmão de Inaura possa prejudicá-los. Morrerão todos!
v  Leléu conta com a ajuda do vela de libra;
v  Tenente Guedes, sabendo que Leléu pode ser morto, pretende deixá-lo sozinho numa cela e com pouca proteção;
v  Heliodoro descobre, por meio das descrições feitas por Lisbela, que o irmão de Inaura é o mesmo Frederico Evandro. Leléu desespera-se!


TERCEIRO ATO
“Citonho e Heliodoro, do lado de fora, bebendo e comendo, conversam, sentados no chão. São mais ou menos 9h30 da noite. A lâmpada dos presos está apagada. Lapiau, que espreitava através das grades, aproxima-se do carcereiro e de Heliodoro.”

v  Lapiau conversa com Citonho e despede-se;
v  Citonho e Heliodoro falam sobre o fato de Leléu ter conseguido uma corda, com o Tenente Guedes, a pedido de Lisbela;
v  Heliodoro revela a Citonho que Lisbela visitou Leléu durante à noite três vezes;
v  Tenente Guedes e pede a Citonho que saia da delegacia para ir dar uma abraço em Lisbela, pois é a festa de casamento dela;
v  Pede a Heliodoro que feche uma das saídas da cadeia;
v  Tenente Guedes descobre que os presos fugiram e entra em pânico, pois fornecera a corda  a pedido de Lisbela;
v  Heliodoro sai para chamar os praças e tenente Guedes fica sozinho;
v  Entra Dr. Noêmio reclamando que Lisbela  havia desaparecido depois do casamento;
v  Chega Lisbela vestida de homem. Quer saber se Leléu fugira.
v  Lisbela revela que está apaixonada por Leléu, que fugiria com ele para qualquer lugar, de corpo e alma;
v  Heliodoro consegue trazer Testa-Seca e paraíba de volta, mas Leléu não.
v  Jaborandi toca a corneta no cinema e vai preso;
v  Enquanto a confusão continua entre os presos, libela , seu pai e Dr. Noêmio, chega de livre e espontânea vontade Leléu;
v  Leléu explica por que não fugiu com Lisbela, não queria fazer uma grosseria, mas voltou para ficar perto dela;
v  Lisbela pede insistentemente para que o pai a libere. Ela quer ir embora com Leléu. Pega uma arma sobre a mesa e sai correndo.
v  Chega Frederico Evandro furioso e encontra todos reunidos na delegacia;
v  Citonho é obrigado a prender todos em  uma cela;
v  Quando Frederico conta até cinco para atirar em Citonho, que protegia Leléu, ouve-se um tiro, mas é o  Vela de Libra de cai. Aparece Lisbela... com um revólver na mão!
v  Dr. Noêmio vai pedir a anulação do casamento.
v  Testa-Seca apodera-se do revólver de jaborandi e tenta atingir Tãozinho e o Tenente, mas nenhum é alvejado. As balas eram de festim.
v  Atira em Paraíba como teste, mas o mata. Havia apenas uma bala de verdade, como esclarece jaborandi.
v  Revelação: Lisbela não matou Vela de Libra, o valente morreu de susto. Ela está livre do crime e da vingança.
v  Final feliz: delegado fica com os ovos que Tãozinho ia dar a Leléu e reparte com Citonho.