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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

SONETOS, de Camões



SONETOS, de Camões

(Organização: Luci Rocha)

1) Contexto histórico: Vantagens e consequências das Grandes navegações, reinado de D. Sebastião e D. Felipe II.
2) Período Literário: Classicismo Renascentista português.
3) Linguagem: clássica
4) Recursos Literários: Figuras de linguagem: metáfora, anáfora, antítese, paradoxo, hipérbato, hipérbole etc.

5) Estrutura: São um total de 168 poemas publicados a partir de 1595 (considerando que Camões falecera em 1580). Os sonetos Camonianos, em sua maioria, seguem o modelo petrarquista: 14 versos, divididos em 2 quartetos e 2 tercetos; com metros decassílabos heroicos (subida na declamação na 6ª e na 10ª sílabas); disposição de rimas (pobres ou ricas) em ABBA ABBA, nos quartetos; e variações nos tercetos que, geralmente, apresentam rimas distribuídas em  DCD DCD, CDE CDE ou DCD CDC.



136
A fermosura fresca serra,
e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha terra,
o esconder do sol pelos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza
com tanta variedade nos ofrece,
me está (se não te vejo) magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
sem ti, perpetuamente estou passando
nas mores alegrias, mor tristeza.

101
Ah! minha Dinamene! Assi deixaste
quem não deixara nunca de querer-te?
Ah! Ninfa minha! Já não posso ver-te,
tão asinha esta vida desprezaste!

Como já para sempre te apartaste
de quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te,
que não visses quem tanto magoaste?

Nem falar-te somente a dura morte
me deixou, que tão cedo o negro manto
em teus olhos deitado consentiste!

Ó mar, ó Céu, ó minha escura sorte!
Que pena sentirei, que valha tanto,
que inda tenho por pouco o viver triste?


005
(Tercetos)

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

129
Na ribeira do Eufrates assentado,
Discorrendo me achei pela memória
Aquele breve bem, aquela glória,
Que em ti, doce Sião, tinha passado.

Da causa de meus males perguntando
Me foi: - Como não cantas a história
De teu passado bem, e da vitória
Que sempre de teu mal hás alcançado?

Não sabes que a quem canta se lhe esquece
O mal, inda que grave e rigoroso?
Canta, pois, e não chores dessa sorte.

Respondo com suspiros: - Quando cresce
A muita saudade, o piadoso
Remédio é não cantar senão a morte.

120
Cá nesta Babilónia donde mana
Matéria a quanto mal o mundo cria;
Cá onde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

Cá onde o mal se afina e o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana;

Cá neste labirinto, onde a nobreza,
Com esforço e saber pedindo vão
Às portas da cobiça e da vileza;

Cá neste escuro caos de confusão,
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!




SONETOS SELECIONADOS

1) Natureza que emoldura os sentimentos do eu lírico; retomada de temas das cantigas medievais de amigo; fuga do tema central (maneirismo).

A fermosura desta fresca serra (1668 - soneto 136)
Esta lascivo e doce passarinho (1595 - soneto 014)
O Céu, a terra, o vento sossegado (1616 - soneto 106)
Como quando do mar tempestuoso (1598 - soneto 043)

2) Homenagem à amada morta, Dinamene.

Ah! Minha Dinamene! Assi deixaste (1685-1668 - soneto 101)
Alma minha gentil, que te partiste (1595 - soneto 080)
Quando de minhas mágoas a comprida (soneto 100)

3) Análise filosófica e reflexiva do Amor (platônico e aristotélico).

Transforma-se o amador na cousa amada (1595 - soneto 020)
Pede o desejo, Dama, que vos veja (1595 - soneto 008)
Enquanto quis Fortuna que tivesse (1595 - soneto 001)
Amor é um fogo que arde sem se ver (soneto 005)
Busque Amor novas artes, novo engenho (l595 - soneto 003)
Vencido está de amor meu pensamento (1685-1668 - soneto 145)

4) Referência bíblicas para refletir sobre o Amor ou a Pátria.

Sete anos de pastor Jacob servia (1595 - soneto 030)
Na ribeira do Eufrates assentado (soneto 129)
Cá nesta Babilônia? donde mana (1616 - soneto 120)

5) O desconcerto pessoal  (sentimentos autobiográficos).

De vos me aparto, ó vida! Em tal mudança (1595 - soneto 057)
O dia em que eu nasci, moura e pereça (1860 - v)

6) Os efeitos da efemeridade da vida e da passagem do tempo.

O tempo acaba o ano, o mês e a hora (1668 - soneto 133)

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (1595 - soneto 092) 

Leitura dos sonetos na íntegra em; http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf

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